24 de jul. de 2010

Ibiri

Templo de Nanã Buruku em Dassa Zumê
(foto de Pierre Verger)




Eu só tinha sede, meu imbondeiro!
Queria te ver.
Me disseram que o mar nasce de dentro de você.
Qual pássaro noturno no zênite do dia
Vou me aninhar nas tuas fendas,
Raízes da lama,
Pés de Santana,
Minha calmaria.


Tua pele ancestral, matéria da minha,
Cheira ao vinho que Oxalá
Bebeu até lembrar do que nunca esquecia:
Que o mundo não é feito em um ou sete dias
Se da palma fermentada bebe tudo o que não podia!

O que eu tenho é sede, ó baobá!
Pede a tua prima que abra o ventre para me saciar!


Barriguda e nuazinha
No inverno ela procria;
Pari painas tão branquinhas
Pr'Oxalá lhes fazer filhas!




Saluba Nanã!
Epa Babá!


(salve a família Bombacaceae)

22 de jul. de 2010

Memórias de um vício que não foi

.
Eu não fumo.
Maconha de vez em nunca.
Bebida, nestes tempos, é coisa rara.
Sexo? Já voltei a ser virgem.
Me deixem ao menos com o meu café!!!
.




Um achado este!

Perdido num canto qualquer.

Ai, que drama! ahaha!

Me rendeu uma boa risada hoje.

20 de jul. de 2010

Guia

Moema, Victor Meirelles (1866)


Iemanjá que me leve, kalunga dos meus dias!
Para jazigo na praia
Areia serena
Moema é minha guia.


junho 2010
(há três links na postagem)

Heráclito

Ai, porque me anoiteço?
minha escrita fria de pés conjugados
meu caminho maldito,
meus sapatos de barbas de molho, pêlos alheios.

Ai, porque não durmo
e me rendo logo
e me entrego à dança torta das meninices afoitas?

Quanto doce, meu deus!
quanto doce me derrama na cara
me lambuza o queixo
me contorna a boca
sem nenhuma gota
nenhuma gota me roçar a língua e me fazer feliz por toda a próxima eternidade!

Ai, me lamento quente
e no fundo do meu taxo te espero cá, na várzea
para cheias de julho,
chuvas ocasionais de uma eterna seca.

Meu rio que sempre corre.

17 de jul. de 2010


Fool's errand (2006)
de Nancy Baker
errand. recado, mensagem; pequena incumbência
fool. tolo, néscio, idiota

bruxa, vida!


The Witches Flight (1798),
de Francisco Goya

quem nunca?


Conversations I've Never Had,
de Martha Verschaffel

15 de jul. de 2010

São Paulo

varar este estado como
quem se auto-deflora.

saqueando os ipês.

13 de jul. de 2010

cresce vivo e sanguíneo nadando por entre as folhas
passeando nos meus cabelos de hera
minhas mãos investigam minunciosamente os lugares onde deixei repousar a cabeça.

estava perto, estava alocando paixões.
estava tentando acordar e vencer a cegueira,
a mudez que me ataca olhos,
ah, meus olhos de pedra onix, capricornianos rolados!

viro a moeda da minha loucura.
quero obscurecer a lua.
quero nascer no sangue de jorge e projetar minha voz na ponta da lança.

8 de jul. de 2010

(3

feriadão:
três dias sossegando no limbo para uma vida de paraíso.
recesso.

que seja menos febril e mais lunar.

Aruanda - inda que eu seja o céu para minhas tempestades,
garôo de baixo para cima. )


"que seja doce"
Caio F. Abreu

6 de jul. de 2010

ruas

dobrei a esquina
para ver se te desencaminho.

enquanto refaçominhas sinas.

2 de jul. de 2010

vento

entre o silêncio e a palava
há um sopro vacilante
há uma boca quase seca
há uma saliva aflita
um pensamento sujo
um querer fronteiriço
um pedido de asilo
de arroubo.
há um coração balbuciante
um estertor suspenso no nascimento.

nada mais há de me suportar nos limites.