27 de abr. de 2010

A chuva trouxe para dentro de casa o cheiro da rua.
fritura e ar escaldado.
o frescor Pirajussara.

enquanto eu dançava o ijexá.


"A água arrepiada pelo vento
A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silêncio"
Caetano Veloso
Coita d'amor (estrada)
Vou embora com a estrada, meu bem.
Vou embora sem pensar.
Levo teu amor no bolso
Que é pra ele me agasalhar.
Se eu estou assim quietinha
É de tanto imaginar
Teus olhinhos gemas d'ouro
Me dizendo "vem amar".
Sabiá, minha queridinha,
És a voz de Dona Euá,
Me leva junto com a neblina,
Que é pro sol se levantar.

23 de abr. de 2010

enfim,

o que é?
aos idiotas que brincam com a verdade: meu sangue que escorre dissimuladamente sujando de mulherices teus colchões.
eu só estou aqui porque permaneço o tempo todo indo embora.
suspensa a 1 cm do chão, largada a meia boca da tua nuca.
desço pela crista do meu cavalo. ele baba nossas noite de mel, nossos invernos de luz quebradiça, nosso calor condicionado ao quarto, nossa voz arquejando um depois.
eu trouxe pela mão direita algumas love songs: Tony Braxton e The Doors.
porque comédias românticas de madrugada...

tranças e calças largas.
música negra



...quando a gente fica besta a gente fica besta mesmo, hein!
pelamordedeus!

e ainda chama meia dúzia palavra torta de "disposição para escrever".
rs
é dose, aru!

22 de abr. de 2010

BELO BELO

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo - o que foi? passou! - de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia a dentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inapropriáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

- Quero é a delícia de poder sentir as coisas mais simples.




ÁGUA-FORTE
O preto no branco,
O pente na pele:
Pássaro espalmado
No céu quase branco.
Em meio do pente,
A concha bivalve
Num mar escarlata.
Concha, rosa ou tâmar?
No escuro recesso,
As fontes da vida
A sangrar inúteis
Por duas feridas.
Tudo bem oculto
Sob as aparências
Da água-forte simples:
De face, de flaco.
O preto no branco.


Manuel Bandeira

19 de abr. de 2010

Conversa com a Efigênia de Mauá numa esquina da Vila Matilde

1) Quantos triângulos tem na figura 3?


figura 3:


leio.
e se estivesse apaixonada o mundo vinha tão diferente!

leio.
na minha secura...

leio.
...há uma tranquilidade de Rei.

leio
a tua boca.

leito.
fiquemos quietos agora.
se nos seios dos teus olhos
moram nossos gritos recônditos
e os gemidos de fórmica branca...


se eu, plena e segura,
prenha de Rei...
se eu governo meu silêncio
- e a minha lei é seca e dura -
se eu evitei Todo Carinho
- para me manter triste e pura -
leio.
e minto cruzando as esquinas.
trancando a cara, cuspindo fogo.

leio.
"ah, vá tomar no cu deus!
porque eu falo paravrão mesmo!
eu sou assim, tudo de bom!"
ela é a irmã do Kikão e eu a madrinha da Letícia.

leio sobre óleos perfumados.
perfuro vestidos gomados,
coso barras de calça antes das sete.

e se eu estivesse assim, apaixonada...
mas eu nunca mais vou estar.

"você me conhece"
este é o grito seco.
é a frase de lei que me obriga a seguir.
de sorriso no rosto,
de testa para o céu.

eu leio.
e quero(s).


;)

16 de abr. de 2010

semana



Você pisca na minha janela.
Impressionando minha paisagem.


Antes, ali.
Antes, do lado.
Agora, aqui perto.
Agora, ali longe.


E eu, tonta que sou, giro em falso
querendo fixar você,
querendo juntar o nós.

E se pudesse,
o tempo todo...
E se assim fosse,
luz seria.

Am.

7 de abr. de 2010


agora, assim.

na calma.

5 de abr. de 2010

Pena

cadê a cruz para fazer medo ao meu Diabo de chifres gastos?


E às vezes ele arde.
"solidão é lava que cobre tudo", canta.
mas assim,
sozinho,
não há fogo,
não há pedra,
não há música
que cubra este lugar.
não há nada que preencha coisa alguma.

não há alma viva que cuide desta absolvição.



4 de abr. de 2010

in vino veritas

Cresci ouvindo isto do meu pai.
Agora que envelheço - envelhecer, que é o declive após o grande ápice que a gente nem sabe que viveu - o ato de beber vinho já é ouvir a voz dele, uma espécie de alter ego ébrio me falando d(a) verdade.