29 de nov. de 2010

etnografei minha descrença.
está feito o relatório final.
nos "Anexos", uma carta doutrinária de auto-crença fundamentalista destinada a expirar vinte e quatro horas depois de sua primeira leitura.

um recorte longitudinal ergue-se qual farol na página 37 (seção Metodologia):
o sistema mostra-se vertical,
uma pletora de ontens e anos retrasados
acumulados uns sobre os outros,
negativos de tempos pré-históricos,
modernidades arcaicas, minha escada para o céu.

o passado parece ruir.
podre e roto desmoronando seus sentidos para uma análise sincrônica.
o passado parece ruir para um presente oroboro.

etnografei minha descrença.

ontens retrasados.
o hoje parece ruir.

26 de nov. de 2010

mercúrio na casa oito

lechuza,

lucida en la oscuridad.

22 de nov. de 2010

imagens de quatro dias de disciplina

"solilóquio sem fim e rio revolto"

Jorge de Lima


 o que está para acontecer?!

não durmo com medo de perder meu próximo pensamento.

mulecagens e desprezos vêem como reflexos nervosos a um mundo que se mostra cada vez mais estranho
cada vez mais próprio
e lindo
e ridículo.
cada vez mais.

imagens de quatro dias de disciplina II

BOEMIA DE FIM DE SEMANA
cruzar esta aurora é travar o cabo da tormentas em direção à descoberta de que mais uma segunda-feira se ergue para o êxtase sepulcral de mais uma semana de corrida mediocridade.




(pensei)

15 de nov. de 2010

1

nina simone fere-me a carne.
e vaza-me a solidão neste corte cínico.
sem ela não Sou.
melhor ir dormir.


2


o que eu tenho não pode ser chamado
de "dor nas costas" ou "dor de cabeça"
porque não é ruim.
como eu disse - embora você não tenha me ouvido -
não estou interessada em remédios.
isto é raro, senão único.
agora, por exemplo, a dor já passou.
ou talvez ela esteja continuando, mas no seu inverso.
mas aí,quem sabe, não seja dor.
estranho como o melhor parece ser a normalidade
 - ou seu ideal: correr atrás de uma saúde de ferro para na primeira chuva, inferrujar.
como se alguém realmente conseguisse chegar a isto.
a noção de saúde é construída.
à merda os construtivismos.
estou doendo.
quero uma realidade dada.


3 (Odisseu)


homero sim seria um (re)encontro.
mas este menino, é vaidade.


4

quase todo dia eu passo perto de uma rua, a Jorge de Lima.
outro dia peguei o livro e LI o tal Lima:

"Solilóquio sem fim e rio revolto".


5


"vida inteligente na madrugada"
solidões não serão perdidas.

12 de nov. de 2010

Eva

Rhesus, rezo, Jesus!





Eva espreitava quando o seu primeiro homem
Saiu por detrás das bananeiras,
Como um Tarzan, abraçado à macaca Chita,
Comido o fruto admitido.
Enciumada trepou nas macieiras
E rompeu o selo do seu prazer:
Foi para Nova Iorque fazer compras
Com o cartão de crédito do glutão.
Por isto hoje temos no sangue
E em Rhesus a prova
Dos crimes.
Fator Rh negativo: ascende a Eva
Fator Rh
Fator Rh positivo: descende de Adão.

Luís Carlos de Oliveira "Aseokaýnha"

11 de nov. de 2010

[em processo/rascunho público]

desse modo me carece tanta coisa!
que quando olho para trás à procura de minha cálida Eurídice,
ela me sorri numa agonia tranquila, desfalece e vira chuva para fortalecer meu chão.
me carece uma só coisa:

(a terminar)

6 de nov. de 2010

"Tudo quanto foi moça caiu no samba. Uma não ficou.
Chegava num ponto, de tanto sambar, elas iam diminuindo.

Ficandinho pequenas, ficandinho pequenas até caberem no pandeiro deles. Ai entravam. Lá dentro continuavam a sabar.
Páquete-papáquete-páquete-papáquete!

Quando a última ialê entrou no pandeiro do negrinho...o cavalo dele falou: - S'imbora, Dudu!
Ninguém ficou espantado do cavalo dele falar, não.

Mas aí se viu que ele não era Ossanha.
- Peraí, Calunga - o negrinho respondeu.
Tacou a mão no pandeiro. Tão forte que até hoje se escuta.

O negrinho foi crescendo, crescendo, crescendo. As ialês, que tinha ficado pequenininhas para entrar, voltaram ao tamanho delas mesmo. O negrinho de um pé só levou todas pro seu Candomblé, do outro lado do mar.
Era Dudu Calunga."



Trecho do livro (infantil) "Dudu Calunga" de Joel Rufino dos Santos,
ilustrações de Zeflávio Teixeira.
Coleção Curupira; Editora Ática, 1986





*****

Eu estava dormindo e acordaram-me
... e me encontrei num mundo incerto e louco!
Mas quando eu começava a compreendê-lo
um pouco,
já eram horas de dormir de novo...

Mario Quintana

é com este que eu vou!

2 de nov. de 2010

Se
eu tivesse uma alma ela viria andando pelo corredor
e ficaria recostada no batente da porta toda dengosa, meio amarela,
olhos moles, pulmões chiados.
Chegaria como quem ah, fui ali na esquina e voltei, eu sempre volto; me desculpe, mas se fosse por cigarros não voltaria mais.
E então ela veio.
trouxe a cabeça eivada pelas pancadas contra os azulejos do banheiro.
Antes fosse tombo, queda de tropeço, susto.
Não foi.
Que travessa esta danada autodestrutiva!
Arteira!

Pobr'alma minha agarrada qual carn'aos ossos àquilo qu'exala dor'i ressentimento!

"Vi por gran mal de mi,
pois tam coitad'and'eu."
D. Dinis



Se eu tivesse uma alma...
Não a tenho.
Graças a deus.