30 de mar. de 2010

Desapresentação

Quero me jogar na cara nua meu eu
Até que ele penetre na minha pele
Se enfie nas minhas carnes
Se enverede por minhas entranhas
Até eu me vomitar e, me vendo sair
Lenta e voluptuosamente da minha boca, do meu ser,
Me reconheça também como invadida de e por mim.


29 de mar. de 2010


Bolo de fubá com café:

O seu Mata Virgem:
- Cê tá com uma dúvida?
- ...não.
- Que Osóssi te abençoe!

...

e mais fumaça.


Sampa Crew e Marc Chagall:

"Nesse exato momento a folha brinca no vento/ você, no meu pensamento"

Frontispício (Dafne e Cloé)



O ministro do batismo perguntava se a gente podia ver Deus. E eu respondia, assim, no meu íntimo, que sim.

Eu vi deus naquele gol branco, motorista e passageira discutindo sobre o Sampa Crew. Aquele cara que saiu, o outro, de tranças, que entrou, o que canta fino, o que fala...

Ela achava chata a música do Tim Maia. Mas não faz mal... eu disse, assim, para mim mesma. Não faz mal, não.

Quando eu puder eu conto para ela e, para ele também, que eu vi deus abençoando contínua e eternamente o matrimônio suado destes dois. Uma benção que era assim, um pouco do guache do Chagall.

24 de mar. de 2010

mais um

"Borra cura queimadura",
Receita de vovó.
E o que cura meu carinho
Cansado de ser só?



achado num caderno de 2009/10

23 de mar. de 2010

Quando os olhos são maiores que

o estômago a gente tem que

crescer no susto para sustentar

a gula de vida e mais vida.


21 de mar. de 2010



Clarice Lispector:

O adulto é triste e solitário.
A criança tem a fantasia; é solta.


Junio Lerner:

A partir de que momento, de acordo com a escritora, o ser humano vai se transformando em triste e solitário?


Clarice Lispector:

Ah, isso é segredo. Desculpe, não vou responder.
A qualquer momento da vida. Basta um... um choque inesperado e isso acontece. Mas eu não sou solitária não, tenho muitos amigos. E só estou triste hoje porque estou cansada. De modo geral eu sou alegre.




...pois é.

17 de mar. de 2010

Pausa (beira do inverno de 2010)

(dois anos.
é a idade deste blog aqui.
e o mundo de onde ele surgiu e onde ele se mantém se desfaz a cada segundo. e é tão fácil perceber e tão difícil continuar a andar, ainda que necessário e extremamente delicioso.

não sei se darei uma pausa de um dia, uma semana, um mês.
toda pausa anunciada neste lugar nunca durou o tempo sabático que eu achava que devia durar.
não é uma pausa no meio do percurso ou um momento de crise para refazer a trajetória e projetar as expectativas.

é outra coisa.
é outra coisa.

mas tenho umas idéias...
vou refazer os "tags": aquelas gavetas onde a gente pode separar as postagens por tema, o que cria microblogs dentro deste ayê; e já uma forma de dizer outra coisa com as palavras , textos e imagens antigos (e esta idéia de repetição me parece boa! rs).

fim da postagem. )

16 de mar. de 2010

Lá em casa
Lá em casa:
Dois João
E um José.
Amém e Axé!
Para o Milton
É daqueles poeminhas simples
e levezinhos que saem sem planos e pretenções.
Escrevi já faz uns dias.
E o senhor me corrija caso as afirmativas
acerca dos nomes estejam erradas, hein!
Faço outro num instante!
Da série escritos semi-velhos no caderno mais recente
O inferno como opção

À noite
Quando os bons se dissolvem
No limbo

Quando o terror migra
Para este prédio
Com suas caravanas do absoluto
Suas ordas de Andróginos - gêmeos desalmados -

Surrando crânios com suas facas de marfim
Embotando o prazeres
Susurrando delícias amputadas...

À noite
Quando me implodi
E era meio velha
Era meio nunca
Era medi-ocre
Quase beije
Um quase
Beijo.





Da série escritos semi-velhos no caderno mais recente

9 de mar. de 2010



Agora a lua: sombrio gomo de mexerica suspenso sob os lábios da Noite.
E ela sorri esboçando risadas largadas nos rumos de Eco; nos cantos tristes de Eco, nos seus caça-palavras desesperados, na ladainha de amor para um Narciso antigo para quem só pode ser mais um espelho, apesar de sufixial.





As Oréadas, de Willian-Adolphe Bouguereau (1902)



/Oréades: estas Ninfas, que apreciavam e frequentavam os picos escarpados das montanhas, não têm o caráter ameno nem lânguido das irmãs que habitavam os vales ou os bosques. Amantes dos exercícios violentos, em companhia de Artêmis caçadora, que elas, por vezes, escolhem a caça até os lugares mais perigosos, à beira dos precipícios, menosprezando qualquer perigo ou fadiga.
(...)
Eco existe em todo o lado e mesmo morta faz ouvir a sua voz/
Dicionário de Mitologia Grega e Romana, de Joël Schmidt

5 de mar. de 2010



Este é de última hora e primeira urgência.
Foi o Cyrille quem o enviou para muitas e muitas pessoas por e-mail, inclusive para mim.
E eu vou considerar isto um presente.