25 de fev. de 2010

Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo.
Maysa não é aquilo mas Maysa tem isto.
Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois oceanos nõa-pacíficos.
(...)
Maysa reapareceu depois de longa ausência.
Maysa emagreceu
Está melhor assim?

Nem melhor nem pior.
Maysa não é um corpo.
Maysa são dois olhos e uma boca.

Manuel Bandeira




E a rua era escura e as casas eram pretas e eu vinha de longe. Eu estava repleto de desistência quando eu a vi lá ao longe mais desistente, talvez de modo igual que eu. Ela estava vestida de cinza, os cabelos desesperados e uma coisa foi gritando em mim. Eu sabia, era ela, a grande mulher. E a minha desistência foi ficando triste. Ela encostada naquele muro estava bêbada. mas a bebedeira dela é divina. Ela bebe uísque e o uísque se casou com ela e os dois são o par mais aristocrático, mais verdadeiro desta cidade, desta terra! O uísque para ela é cinzento, o violão, o samba, a chuva, a desistência. Eu não sei por quê mas ela é fabulosa nesta tristeza que até a mim me fascina. Ela estava em pé, bêbada, gorda, feia - e ela era linda! A dor dos deuses! A linda, a divina, agora só divina. Mas o que mais me agoniou foi a certeza da morte dela. E isto tembém é divino. Ela vai morrer. A cantora vai morrer. O samba modificado profundo vai morrer. O mundo da inutilidade sincera vai morrer. O cinzento dela me fascina. Ela está bêbada, sempre bêbada! E quando chove eu não quero me lembrar dela, nem da voz dela, nem das composições dela porque senão eu enlouqueço! Maisa você parece comigo mas a minha desistência que ser heróica, é guerra, é ferro, é sangue, é rock, é velocidade de motocicleta: mas a tua desistência fascina e eu te respeito Maisa, você é sagrada, e eu também bebo uísque mas para mim ele ferve, para você o uísque é cinzento.

Jorge Mautner, Deus da chuva e da morte



in "Maysa - só numa multidão de amores", de Lira Neto.





Quaresma

17 de fev. de 2010


Quaresma

Adolesce

Pedaço dos dias

impossível dizer que não espero
todos os dias.
dentro de uma realidade inchada
e alérgica eu espero
numa adolescência solitária a
derradeira carta onde cuspirá na minha cara.
não fosse beleza despreocupada
deste correio bem elegante
a angústia me dominaria.
mas não.

30/agosto/2009

...guardado em uma gaveta do blog.
que drama!

15 de fev. de 2010










Pretty B. is singing again.



É assim que eu incenso a casa.











Descer até o mercadinho para fermento e cobertura.

Desfiar um dia de carnaval como Orfeu a um fado.














Nada te perturbe

Nada te espante

Tudo passa

Só Deus não muda

A paciência tudo alcança

Quem a Deus tem nada lhe falta

Só Deus basta.



Santa Tereza de Jesus (Santa Tereza de Ávila)


9 de fev. de 2010

BODA ESPIRITUAL


Tu não estás comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela nos meus braços.

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende tua cabeça. Eu amacio-a... afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra nágua.

Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...

Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...

E te amo como se ama um passarinho morto.


Manuel Bandeira
De como o Bandeira me pegou de jeito
na mesa da cozinha em dezembro de 2003.
E desde então estamos juntos.

8 de fev. de 2010

Marc Chagall
Um leque cravejado de lasquinhas turquesas.
Para brisar bemquereres cintilantes.

!



a ponte quebrou!

(Navalhei meus olhos para não estar aqui de novo.
em cada corte os rançosos passos de um curupira trêbado:
queimando as folhas num chicotear de cabelos. e a floresta moribunda.


Unhas ainda em brasa.
A pele num fino véu de veludo negro.


Yndatô prami kerê e as chibatadas correm soltas.
Meu copo preterido e a boca seca atraindo o horror.
O horror de novo.)

já consertou!



Para brisar bemquereres cintilantes.


4 de fev. de 2010

Carcaça de carne, Chaim Soutine
Segundo o Wikipédia Soutine só pintava com modelos vivos.
Sendo assim levou para sua casa o modelo para esta pintura.
Pudera eu ter um destes aqui.
Minha fascinação pudica diante dos caminhões de carne, baús-frigoríficos escancarados na porta do açougue. Corpos pendidos, pêndulos nervosos, vermelhos frios latejando contra o ar. Era A hora.
Pesava nos ganchos e ouvia "olé!", ouvia "alá!", ouvia as caras ávidas, a noite suspensa, as pupilas derramadas, os dentes num castanholar frígido.


"fuga"


Gemia com a boca que não tinha.
Cismava na razão decepada,
e pensava
e queria
e crispava-se todo frendendo os músculos,

rompendo as fibras,

girando menino-sorriso,

balanço do Hook no júbilo

do quase...quase...quase...quase...

- Ai de mim!

lembrando 1

lembrando 2

3 de fev. de 2010

Dord'amor

Ele descrevia o medo de se engolir num destes suspiros.
Como um buraco-negro de si mesmo.
Sentia os braços incharem pulsando, espamódicos.
Angina nos cotovelos.


O pré-texto

No pretexto do frio enfiou os pés por baixo da saia dela que, no susto, gemeu mais safada que pudica colocando, assim, as cartas na mesa e os desejos no mesmo tom.


fevereirinas