19 de out. de 2010

DESTE MAL NÃO PADEÇO MAIS

como descer do teu colo e mergulhar de novo neste meio de tarde morno e sem brisa?
como ficar assim à merce de teus afagos e da solidez de suas coxas?
como fui me deixar ficar?
porque sair andando por aí sem trazer ao menos, um de teus braços como uma estola de pele nobre por detrás de pescoço, por cima do ombro?
como apagar todas as imagens do teu antebraço com as elevações dos tendões volta e meia esticados, linhas infinitas até teus dedos bonitos. mãos muito me importam, dedos e unhas bonitas.

não trago nada, tudo ficou pelo caminho.
ficam ao longo daquelas estradas artificiais de mil curvas os minutos de você em mim; minha dose de simplicidade absurda.
rasgando-me a existência a anunciação de um vazio sem nome, qual saudade de mãe morta.

sem nomes, tanto tua falta quanto tua presença, percorrem-me o amor-não-feito sem restrições e burocracias, sem bater ponto ou qualquer outra coisa.

mas ainda sim não há Amália Rodrigues
não há Maysa Matarazzo
não há Orfeu, Eurídice ou Vinícius!

de repente não existe nada além da fantasia cavalgando "solitária e fim" tal qual uma amazona de arco em punho, sorriso ameno, "mulata pele escura dente branco"
indo por seu caminho, seguida pelo pensamento
de um amigo de braços sem fim lhe espera até sua volta pela lua cheia
seguindo sua vida, qual pássaro contente, "vai tua vida, estarei contigo"*.

OS MALES É QUE PADECERÃO DIANTE DE MIM




*Versos de e referência ao "Monólogo de Orfeu" de Vinicius de Moraes

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